Individuação X separação
Estudos das relações de objeto da primeira infância contribuíram para a compreensão do desenvolvimento da personalidade.
Descreveram o processo de separação- individuação que resulta no sentido subjetivo de separação do indivíduo e o meio que o cerca.
Processo que vai dos três ao quatro meses até 36 meses.
Renê Spitz estabelece seu conceito de “organizador”.
Para ele, o primeiro organizador é a resposta de sorriso (seis meses), em que o bebê reage em resposta a uma face humana. Primeiro objeto não eu para o bebê.
O segundo é a resposta ao estranho (sete meses).
Fica apreensiva com uma pessoa estranha entrando em seu ambiente, sinalizando vínculo com alguém específico (mãe ou cuidador).
O terceiro é o desenvolvimento do “não” que já sinaliza a presença de um ser separado, mostrando um centro de desejos separados da mãe.
Penso poder incluir como reações correlatas as seguintes:
1- tapinhas da criança.
2- não querer dividir seu lanche ou emprestar seu brinquedo
3- em algum momento cuspir a comida.
Bowby, um autor psicanalista, com sua teoria do apego ajuda a compreender essas relações.
Ele considera que a resposta dos pais no sentido de estarem atentos, disponíveis, sensíveis às necessidades da criança e que a conforte amorosamente em situações de medo quando ela busca proteção, sem limitar sua autonomia, seria fundamental no desenvolvimento da sua personalidade.
Pais, como uma base segura, permite que o indivíduo torne-se mais confiante e resistente às situações adversas. Um fator de resiliência, que facilitaria a adaptação do indivíduo às situações difíceis na vida adulta.
No entanto, pais frequentemente indisponíveis ou que não reconhecem as necessidades da criança, estabelecem o que Bowby chamou de APEGO INSEGURO ANSIOSO RESISTENTE que torna a criança excessivamente ansiosa em relação às separações e em sua exploração do mundo.
Outra possibilidade de apego inseguro é o tipo ANSIOSO-EVITATIVO, que tende a se estabelecer quando a criança não recebe conforto ao buscar ajuda e segurança, mas atitudes de rechaço e rejeição, levando-a a buscar viver sentindo que não precisa de ninguém.
Nesses casos, quando a criança e seus cuidadores falham a estabelecer o chamado apego seguro, o indivíduo estaria mais sujeito às sensações de descontrole e imprevisibilidade que, na vigência de um evento traumático, levariam ao aumento do risco de psicopatologia, ou seja, menor resiliência.
Educar é bem mais difícil do que domesticar.
Há de se compreender a dificuldade de muitos pais, principalmente mães, de lidar com as atitudes consideradas “agressivas” da criança, e oferecer a ela aquilo que não teve, sensibilidade às necessidades das crianças.
Muitos pais comentam no agora: esse meu filho parece que não tem vontade própria, é muito inseguro.
Poderia ser diferente?
Dr. José Carlos M. M. Carvalho
Psicanalista / ABMPDF